quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

«As lutas de classes em Portugal nos fins da Idade Média» de Álvaro Cunhal



Toda a gente conhece Álvaro Cunhal como figura política importante, tanto nos tempos do fascismo, como depois do 25 de Abril. Mas Álvaro Cunhal «historiador» e homem da cultura, muito poucos conhecerão. Pois é, este homem fez muitas outras coisas, além de dedicar toda a sua vida a um partido e a uma ideologia, de que nunca se desviou nem um milímetro: escreveu obras literárias, pintou e desenhou, e estudou história, muita história, com certeza, como se pode comprovar neste livro publicado em 1975, pela Editorial Estampa. Mais um achado fantástico nas estantes da minha casa.
Contradizendo o que o autor chama de «historiadores burgueses», Álvaro Cunhal procura dar-nos a sua visão da história, à luz do marxismo, completamente diferente daqueles outros, claro está. É fascinante apercebermo-nos, ao longo desta obra, que a história não é um somatório de acontecimentos e de personagens, mas sim a interpretação que cada um faz desses mesmos acontecimentos e personagens. Portanto, a História que se ensina nas escolas, é apenas uma História, tendo cada um de descobrir as outras Histórias ao longo da sua vida, conforme puder e tiver curiosidade.
Eis um excerto que achei muito interessante e actual, salvas as devidas distâncias:

Os historiadores burgueses têm apresentado sempre o casamento da filha única de D.Fernando com o rei de Castela, em 1383, como «erro» de um rei inconstante e imprevidente. A verdade é ter sido tal casamento uma manobra política da nobreza, manobra maduramente reflectida e de efeitos cuidadosamente previstos e desejados.
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Sentindo o terreno a fugir-lhe debaixo dos pés, incapaz de suster com os seus recursos próprios o movimento revolucionário ascendente, a nobreza procura deliberadamente a entrada em acção contra a revolução ascendente, do aparelho militar da aristocracia territorial de além fronteiras. Nessa sua política, a nobreza de então seguiu o caminho que sempre têm seguido as classes dominantes, quando sentem em perigo a sua existência.
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As classes parasitárias preferiram sempre, a uma vitória das forças nacionais progressistas, a dominação do seu país por um estado estrangeiro que abafe a revolução e lhes mantenha esses privilégios.

Interessante! Abstraindo da visão marxista do autor, substituindo o estado estrangeiro por uma «União Europeia», será que não nos está a acontecer o mesmo? Dão-nos estradas e depois tiram-nos tudo o resto, os nossos direitos mais básicos, tudo com a simpatia e a bênção da tal Potência Estrangeira. Até um dia!

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