terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Partida

Cesária diz-nos adeus hoje, mas não partirá nunca do nosso pensamento e do nosso coração.
O caminho é longe, mas ela leva-nos a percorrê-lo.
Em Portugal, existe um único livro sobre a sua vida, escrito por José Manuel Simões e publicado pela Europa-América.
Este é um belo poema imortalizado pela sua voz única e doce.

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http://www.youtube.com/watch?v=I2JFelZF_SY


Partida

"Nha cretcheu ja`m s`ta ta parti
Oi partida sô bô podia separano
Nha cretcheu lavantá pam bem braçob
Lavantá pam bem beijob
Pam cariciob esse bô face.

Sel ta sirvi pa leval
Ma l`ta sirvi pa transportal
Caminho longe, separação
Ê sofrimento d`nhamor pa bô
Oi partida bô leval bô ta torná trazel.

Oi madrugada imagem di nh`alma
Ma nha cretcheu intrega`m sês lagrimas
Pam ca sofrê nem tchorá
Esse sofrimento ca ê sô pa mim
Oi partida bô ê um dor profundo.
Nha cretcheu ja`m s`ta ta parti
Oi partida sô bô podia separano
Nha cretcheu lavantá pam bem braçob
Lavantá pam bem beijob
Pam cariciob esse bô face.

Sel ta sirvi pa leval
Ma l`ta sirvi pa transportal
Caminho longe, separação
Ê sofrimento d`nhamor pa bô
Oi partida bô leval bô ta torná trazel.

Oi madrugada imagem di nh`alma
Ma nha cretcheu intrega`m sês lagrimas
Pam ca sofrê nem tchorá
Esse sofrimento ca ê sô pa mim
Oi partida bô ê um dor profundo."

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

«Natal 2011» de Isabel del Toro Gomes



Não nos deixemos derrubar pelas circunstâncias adversas dos tempos que vivemos e que nos calharam em sorte. Um Feliz Natal a todos os leitores e amigos, com muita esperança em dias melhores que hão de vir, se todos nós quisermos.


Natal 2011

Onde foram parar
Os natais felizes de outrora?
Onde estão
As DOCES recordações dos dias
Belos frios e nevados?
DOS PRESÉPIOS NAS RUAS CHEIAS DE LUZ
DAS ÁRVORES E CÉUS REPLETOS DE ESTRELAS?
DA ALEGRIA DO CIRCO E DAS CRIANÇAS
DAS CONSOADAS E DAS RABANADAS?
Porque se foram embora?
Nada deles parece restar
Para além das imagens
DOS POSTAIS ILUSTRADOS
À VENDA NAS LOJAS SEM GENTE
SEM DINHEIRO  SEM ESPERANÇA e sem nada.
E DO NOSSO PAÍS SÓ PARECE TER FICADO
O RETRATO DUM FANTOCHE DESARTICULADO.

                       
                                         Isabel del Toro Gomes, 19 de Dezembro 2011


domingo, 18 de dezembro de 2011

«Natal» de Álvaro Feijó

 Presépio montado no Parque de Campismo de Almornos.

 Num momento de dificuldades como o que vivemos, faz todo o sentido recordar este poema de Álvaro Feijó. 
Nem todos os meninos nascem num berço de ouro, muitos não têm mesmo berço nenhum. 
A história de Jesus é a história de todas as crianças do mundo que não foram bafejadas pela sorte de possuirem bens materiais. Mas muitas das vezes, são bem mais ricas do que as outras, pois não é o dinheiro que lhes dá felicidade,  antes o carinho e o amor dos que o rodeiam e os ajudam a crescer.
Aqui fica o testemunho do meu afeto e respeito por todas elas, através das palavras e da poesia de Álvaro Feijó.

Natal
Nasceu.
Foi numa cama de folhelho
entre lençóis de estopa suja
num pardieiro velho.
Trinta horas depois a mãe pegou na enxada
e foi roçar nas bordas dos caminhos
manadas de ervas
para a ovelha triste.
E a criança ficou no pardieiro
só com o fumo negro das paredes
e o crepitar do fogo,
enroscada num cesto vindimeiro,
que não havia berço
naquela casa.
E ninguém conta a história do menino
que não teve
nem magos a adorá-lo,
nem vacas a aquecê-lo,
mas que há-de ter
muitos Reis da Judeia a persegui-lo;
que não terá coroas de espinhos
mas coroa de baionetas
postas até ao fundo
do seu corpo.
Ninguém há-de contar a história do menino.
Ninguém lhe vai chamar o Salvador do Mundo.

                                 Álvaro Feijó, in Diário de Bordo

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

«Paisagem» de Sofia de Mello Breyner Andresen

 
 Sofia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi uma das mais importantes poetas dos nossos tempos. Foi a primeira mulher a receber o Prémio Camões, em 1999.
Aqui fica um poema seu sobre a natureza que tanto a inspirou, sobretudo o mar, uma das suas paixões.

Paisagem
Passavam pelo ar as aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.

Era o céu azul. o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.


Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.

Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.

Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era  o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
                         
                                                     in Poesia, 2ª edição


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