quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Rostos


Pinóquio, o meu personagem preferido, entre todos os que os autores de livros para crianças imaginaram, cresceu e tornou-se Poeta.
Isso mesmo, Poeta, um entre muitos outros poetas que existem no seu país, que é um país de Poetas.
Lá nesse país, anda toda a gente tão apressada e preocupada com politiquices e toda a espécie de traficâncias, que são poucos os que ainda se lembram que existe a Poesia!

Ao crescer, Pinóquio, começou então a escrevinhar, depois a escrever.
Às vezes até ele próprio fica  a pensar, lá na sua cabecinha:
O quê, fui eu que escrevi isto? Fantástico!!

Aqui vai o poema que Pinóquio escreveu:
Rostos
Evoco-te sentado
Num banco de pedra
Com o rio aos teus pés
A ler um livro de poemas
Escritos por alguém
Sem rosto nem sorriso.


Evoco-te a percorrer de lés a lés
As ruas da cidade minha
E agora também tua
Que já conheces melhor do que eu
A mostrares-me mais e mais.
Evoco-te e já desapareceste
De casa mal entraste
E logo num ápice sais
Ávido do ar mais puro
E me deixas sozinha
Num solilóquio nocturno.
Evoco ainda o teu rosto
Sério de barbas longas
Donde sobressai o silêncio
Exausto dum labor confuso
Já de si inoportuno
E cada vez mais ingrato.


Evoco por fim os teus olhos
Castanho escuros
Como os montes e os vales
Da terra onde nasceste
Onde os sorrisos foram escassos
A infância ingrata e fugaz
E as figueiras pródigas demais.
                                                         Isabel del Toro Gomes


quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2015 - um ano mesmo renovado

Ano renovado
 
 
 
 
Desejar a todos os amigos, familiares, conhecidos e desconhecidos um Feliz Ano Novo não me satisfaz e soa-me a falso.
 
Mas o que dizer, quando nos estamos a afundar e vem uma mão  carregar ainda mais para baixo, fingindo que nos querem salvar?
 
 
 
Então direi:
- Que sejamos como a plantinha que brota da lama seca;
- Façamos como as águas dos rios que correm sem parar, ultrapassando todos os obstáculos;
- Resistemos sem tréguas contra os que nos querem tirar a liberdade de falar ver e ouvir, de sermos um pouco mais felizes.
 
 
 


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

«O livro do ano» de Afonso Cruz





Afonso Cruz
 

  • Afonso Cruz (Figueira da Foz, 1971) é um escritor, realizador de filmes de animação, ilustrador e músico português.
  • Estudou na Escola Secundária Artística António Arroio, nas Belas Artes de Lisboa e no Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira.
  • Vive num monte alentejano perto de Casa Branca, no concelho de Sousel.
  • Publicou o primeiro romance em 2008, A Carne de Deus — Aventuras de Conrado Fortes e Lola Benites (Bertrand), ao qual se seguiu, em 2009, Enciclopédia da Estória Universal (Quetzal Editores), distinguido com o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco. Em 2011, publicou Os Livros Que Devoraram o Meu Pai (Editorial Caminho), galardoado com o Prémio Literário Maria Rosa Colaço, e A Contradição Humana (Caminho), vencedor do prémio Autores SPA/RTP. Em 2012, foi distinguido com o Prémio da União Europeia de Literatura com o livro A Boneca de Kokoschka (Quetzal, 2010).  Jesus Cristo Bebia Cerveja (Alfaguara, 2012)  foi considerado o Livro Português do Ano pela revista Time Out Lisboa e o Melhor Livro do Ano segundo os leitores do jornal Público. Já em 2014, Para onde Vão os Guarda-chuvas (Alfaguara, 2013) venceu o Prémio Autores para Melhor Livro de ficção Narrativa, atribuído pela SPA.
  •  Foi eleito, pelo jornal Expresso, como um dos 40 talentos que vão dar que falar no futuro.
 
Não conhecia ainda este autor, pelos vistos tenho andado  muito distraída. Ou os meios de informação não têm cumprido bem o seu papel de dar a conhecer outras pessoas/outros autores, pois damos sempre com os mesmos de sempre encavalitados na cadeira do poder mediático.

 
 
Graças à minha filha, Susana, que me ofereceu O Livro do Ano (Alfaguara, 2013) no Natal passado, livro com pequenas estórias cheias de sabedoria e de humor para quase todos os dias do ano, entrei no mundo literário deste maravilhoso autor. Convido-vos a fazer o mesmo.
 
 
 
24 de Dezembro


 
O Pai Natal passa o ano a sacudir as almofada,
que é onde ficam os restos dos nossos sonhos,
disse eu à minha irmã mais nova. É assim
que ele sabe o que mais desejamos.

Ela fez bem em não acreditar.

                              O Livro do ano, Afonso Cruz
 
 
 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Évora - a cidade para além da prisão

 
 
 
 
 
 
 
 Évora, a cidade para além da prisão
 
 
A partir de Novembro 2014, a bela cidade de Évora ficou confinada a umas paredes de prisão, como se não houvesse mais nada para além dela. Tudo porque foi para lá levado o ex-primeiro ministro José Sócrates, depois de detido no aeroporto da Portela, vindo de Paris (tal como Jacinto de A Cidade e as Serras).

 
Compreende-se o interesse dos media, que para lá correram desenfreados e da porta da cadeia não saem, por nada deste mundo.

 
É pena que os mesmos media não tenham dado outras imagens duma das nossas mais belas e históricas cidades, ignorando-a completamente. Agora não interessa ao público, dirão eles. Ora o público vê o que lhe dão para ver...


 











Penso numa criança ou jovem que nunca foi a Évora, ou mesmo muitos adultos, que pensarão que não há lá mais nada além duma cadeia e reclusos.
 
Tive a sorte de a ter visitado algumas vezes. Estes são os registos dum Outono de 2009. E não vi cadeia nenhuma, obviamente. Para os turistas, não interessa nada a cadeia!
 
 
 
 


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Nella Maissa

                                                                


 Nella Maissa


Nella Maissa morreu hoje com 100 anos.
Nasceu em Turim em 1914, casou com Renato Maissa, um judeu português, na sinagoga de Milão, em 1936, tendo vindo para Portugal em 1939. 
Foi aluna de piano de José Vianna da Motta e iniciou a sua carreira musical em 1932,  carreira que terminou apenas em 2008, já aos 94 anos de idade.
Maissa desempenhou um importante papel na divulgação da música portuguesa, principalmente  a de João Domingos Bomtempo, tendo por esse facto recebido, em 1974, o Prémio Especial da Imprensa.


Uma notícia triste para todos os melómanos e para a música portuguesa, não obstante a provecta idade desta maravilhosa pianista.
Interrogo-me como terá sido a vida de alguém que atravessa duas guerras mundiais, vindo para Portugal e aí fazendo toda a sua vida como pianista.
Interrogo-me como será viver 100 anos, a tocar e a ouvir música, num pequeno país como Portugal.
Apenas a ouvi tocar através da rádio, bem como ouvi a sua voz numa entrevista da Antena 2.
No entanto, isso chegou para me emocionar e fascinar, é qualquer coisa de extraordinário, que sabemos única, que não pode acontecer mais.





domingo, 16 de novembro de 2014

«Blue Tango» de Leroy Anderson




Recordação dos longínquos anos 50, em que muitos de nós nasceram:

Blue Tango, composto por um americano de Boston, Leroy Anderson,  filho de pais suecos e estudioso de línguas guturais, no ano de 1952. 
 Foi tocado e cantado por todos, mas a melhor voz que o interpretou foi a de Gisele Mackenzie, cantora canadiana.
Aqui fica o registo deste Tango Azul, numa tarde de nostalgia outonal.




https://www.youtube.com/watch?v=rymW8rvSEMM&list=RDiOpdZBoc-xg

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Por terras do Douro

 
Logo depois de atravessarmos uma trémula ponte de pau, sobre um riacho quebrado por pedregulhos, o meu Príncipe, com o olho de dono subitamente aguçado, notou a robustez e a fartura das oliveiras... E em breve os nossos males esqueceram ante a incomparável beleza daquela serra bendita!
 
                                                                              Eça de Queirós, A cidade e as serras
 
 
 
Férias no Douro
 
Passar alguns dias na Casa do Almocreve neste mês de Agosto de 2014 foi, para mim, uma bela experiência e uma ótima oportunidade de conhecer mais um pouco desta paisagem do Douro, in loco.
 



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Uma coisa é passar por lá, ver aquelas magníficas paisagens a bordo de um barco, de um comboio ou de carro (o que já é magnífico), outra é ficar mesmo lá a viver alguns dias, fazer passeios a pé, percorrer todos ou quase todos os recantos, reinventarmos um caminho nosso, à imagem de Jacinto, do romance A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós.
 
 

 
 
Nesta Casa, bem lá no alto, na Portela do Gôve,  é-se bem acolhido por gente simpática e competente,  fica-se bem alojado com vista para a Serra de Montemuro, de um lado, e para as encostas do Douro, do outro.
 
 


O único inconveniente é ter de tomar duche num quadrado de meio metro, aproximadamente, mas as paisagens compensam, bem como os deliciosos pequenos-almoços tomados na sala comum da Casa.
O restaurante em baixo também serve  bem, a preços aceitáveis. Adorei o leite creme.
 
 
 
Em resumo, valeu bem a pena. Mesmo com a chuva deste verão incerto, aproveitámos cada minuto de forma agradável, neste lugar único que é o Douro, as suas encostas e os seus socalcos. E as suas hortas, como não podia deixar de ser!
 
 
 
 
Sem dúvida, um dos nossos melhores patrimónios paisagísticos e ambientais, onde amadurecem as uvas que darão o delicioso néctar usado no fabrico do famoso Vinho do Porto.